quinta-feira, 21 de junho de 2018

Ainda bem que há surpresas!


Felizmente, há sempre surpresas nas grandes competições desportivas, especialmente nas de futebol. Umas maiores do que outras, é verdade, mas sempre surpresas. Estou certo de que só os mais pessimistas admitiriam antes do jogo começar que a selecção argentina iria perder por margem expressiva.

A Argentina é, digamos assim, uma velha nação do futebol, já venceu o Mundial em 1978 e tem em Maradona a grande estrela, acima de muitos outros grandes futebolistas da selecção alviceleste, enquanto a Croácia é uma jovem nação em tudo. Portanto, até no desporto mais popular do planeta, a que Pascal Boniface já baptizou de «único fenómeno verdadeiramente globalizado».

A Argentina perdeu e perdeu bem. Messi mal se viu e os companheiros de equipa nunca foram capazes de se superiorizarem aos croatas, individual e colectivamente. Os argentinos podem, sim, lamentar ou queixar-se da intervenção azarada do guardião Caballero, mas no mais devem assumir que estiveram muito aquém do que podem e sabem, táctica e estrategicamente. Um ponto, um golo marcado e quatro sofridos em dois jogos é pecúlio muito fraco. Ainda não está eliminada, mas já depende de terceiros.

Humilhante esta derrota? Não! Como se diz na gíria, é futebol. E ainda bem que há surpresas… A popularidade do futebol deve-lhe muito.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Recordar, para que jamais se repita Lens


Faz hoje precisamente 20 anos que a pequena cidade de Lens, no noroeste de França, foi palco de um dos mais graves e violentos incidentes, que não só manchou o Mundial que decorria no país como a imagem da Alemanha.

Naquele já longínquo dia 21 de Junho, um domingo, a selecção alemã defrontava a congénere Jugoslávia, e Lens atraiu, naturalmente, muita gente para o que se pensava ser uma festa, dentro de fora do estádio. Porém, entre os visitantes, um grupo se destacou pelos piores motivos, hooligans germânicos, que, aos gritos de «estamos de novo em marcha», fazendo lembrar a ocupação da cidade pelos alemães nas duas guerras mundiais, não só destruíram bares, vitrinas e janelas, cadeiras e esplanadas e, mais grave ainda, espancaram um polícia com tal violência, que ficou incapacitado para a vida inteira.

«Saímos de autocarro no sábado, à noite, passámos a viagem a beber e nem dormimos. Manhã cedo, entrámos no primeiro bar e noutros durante todo o dia», confessou, em tribunal, Markus F., citado pela Kicker online.  Mas a embriaguez não justifica tudo. Na mente daquela gente havia algo de premeditado e sádico prazer pela violência gratuita.

A vítima chama-se Daniel Nivel, tinha então 43 anos, que foi barbaramente espancado durante dois minutos. «Aquilo não era pontapear, era esmagar», comentou mais tarde Walter F., o autor da foto que correu o mundo. Balanço trágico: múltiplas fracturas de crânio, fractura de uma cavidade ocular, lesão de uma vértebra cervical e perda de massa encefálica.

O então chanceler alemão, Helmut Kohl, qualificou os incidentes como «vergonha para o país», enquanto Egidius Braun, ao tempo presidente da Federação Alemã de Futebol chegou a admitir retirar a selecção da competição.

Daniel Nivel só recuperou a consciência depois de ter estado seis semanas em coma no Hospital de Lille e só então se apercebeu da gravidade das lesões. Pai de dois filhos, o ex-agente da Gendarmerie tem metade do corpo praticamente paralisado, parcialmente cego e mal pode falar e cheirar.

Recordar é preciso, para que jamais se repitam cenas como aquelas que, há vinte anos, destruíram para sempre a vida de agente da polícia francesa. Os valores que o desporto encerra são de paz e tolerância com os quais se cimenta a amizade entre os povos em festas como devem ser também as grandes competições.

domingo, 17 de junho de 2018

A vibrar, claro, mas sem bandeira nem cachecol


Não é no futebol que revejo o meu amor à pátria e muito menos embarco num nacionalismo bacoco e populista que surge sempre que há campeonatos da Europa ou do Mundo e que cresce e se reforça à medida que a selecção avança no calendário. Tenho noção exacta de como o futebol é capaz de aglutinar comunidades, ao ponto de fazer com que uma equipa se transforme em símbolo de uma identidade.

Entendo, porém, que este orgulho não deve fechar portas a quem, vivendo entre nós e connosco, se revê também na alegria dos golos desse futebolista de eleição nascido na Madeira ou de que qualquer outro futebolista português, como nepalês que veste a camisola de CR7 ou paquistanês, que ainda aproveita a que tinha do tempo em que Deco foi também estrela do FC Porto e do onze nacional. Aliás, o exemplo é dado pela própria selecção, ao integrar jogadores filhos de guineenses, cabo-verdianos, angolanos, brasileiros… e que já nasceram cá ou, se não nasceram, se identificam como portugueses, como eu. Pepe é um bom exemplo. Tão bom, que até é um dos capitães da equipa.

E penso também no que o futebol e a selecção representam para os portugueses que tiveram de emigrar e muito mais ainda para os seus filhos e netos que, da pátria com que se identificam, por vezes, pouco mais sabem do que ouvem as famílias contar. Comunidades que esperam também dos povos que as acolheram compreensão e tolerância na hora dos festejos ou dos lamentos.

A nossa história diz-nos que temos sido ao longo de séculos um povo de emigração, mas revela-nos hoje que somos também um povo de acolhimento, pelo que, se desejamos que os outros nos aceitem, devemos saber igualmente receber bem quem procura a felicidade no nosso País. Quem vem por bem, bem-vindo deve ser sempre. Até porque a alegria de quem aqui vive, portugueses e não portugueses, não deve estar dependente dos resultados de uma selecção de futebol, embora todos saibamos que quantas vezes é ela que desperta nos rostos o sorriso tantas vezes negado pela agruras da vida.

Não uso cachecol nem tenho bandeira na varanda, mas vibro com cada golo de Cristiano Ronaldo, com qualquer golo dos jogadores portugueses, e enche-me de alegria cada vitória da selecção nacional. Sofro a ver os jogos, sempre na expectativa de que o remate leve a bola a bater no fundo da baliza ou que Rui Patrício lhe trave o andamento, impedindo isso mesmo. Não sou, portanto, imune às emoções que o futebol desperta… Vibro, claro, mas enche-me também de alegria ver o meu vizinho estrangeiro festejar ou sofrer connosco.


Vem aí o futuro!

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