domingo, 18 de setembro de 2016

Sou telespectador! Não façam de mim consumidor!

Na linguagem tecnocrática muito em voga, incluindo na boca de muitos jornalistas, eu sou um consumidor de noticiários televisivos. Ora, se assim é, como encontro diariamente muitos defeitos nas notícias que me vendem, acho deveria exigir o Livro de Reclamações, para, no mínimo, lavrar o meu protesto. Desconheço, porém, a existência de tais brochuras em qualquer das estações portuguesas, privadas ou pública, pelo que me valho desta criação de um homem com nome adocicado Mark Zuckerberg (monte de açúcar), o Facebook, para, de vez quando, dar conta das minhas amarguras.

Como consumidor, sou, assim, posto entre aqueles que enchem as folhas de Excel que as chefias e as direcções dos referidos canais consultam diariamente para avaliarem subidas ou descidas nos índices de audiência e no «share». É assim que elas me vêem. A mim e a todos os telespectadores. Infelizmente. Dentro desta lógica, o cidadão que gosta de estar informado sobre o que vai acontecendo no país e no estrangeiro vale muito pouco. Diria até que, para alguns, mesmo nada.

Estes alguns são os que pensam e defendem que, se a notícia não vende, não presta. São os que consideram pré-histórica aquela velha máxima, segundo a qual um órgão de informação deveria informar, formar e entreter. Em meu entender, os órgãos públicos deveriam ser mesmo obrigados a respeitá-la. Mas, infelizmente, quem os lidera guia-se também por políticas mercantilistas e, pior, o patrão (Estado), cujo poder é exercido pelo Governo não é capaz de os pôr na linha.


Não me resigno a esta ideia de que os tempos mudaram e nada mais há fazer. Tenho consciência de é que é muito difícil contrariá-la, mas sei que não é impossível. Mas, para isso, é preciso remar contra a maré e exigir da tutela que respeite o cidadão e os direitos que lhe assistem consagrados na Constituição da República. A batalha pode e deve ser travada por quem assim pense também, desde logo para fazer ver a quem pode decidir sobre a matéria que, no caso da televisão pública, o cidadão não pode ser visto e contabilizado como mero consumidor. Eu, pelo menos, quero continuar a ser telespectador. Atento e interventivo. Elogiando, quando se justificar; criticando, quando tiver de ser. 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Deixo aqui um recado e daqui lanço um alerta

Tempos houve em que os jornalistas sentiam orgulho e se esforçavam para corresponder a um slogan que exortava à leitura e visava inspirar confiança no leitor: Ler jornais é saber mais. Deixou de ser. Infelizmente. E parece que ninguém se importa. Vende mais quem se aproximar do pasquim. O que interessa é fofoca e maldizer. E, se vende mais, é porque há quem compre. Uma tristeza!

Com frequência preocupante, os narradores/comentadores de futebol falam do jogador como tendo necessidade de revelar proximidade e até relações de amizade, como o demonstra o uso do artigo definido antes do nome. «Vai agora entrar o Manel Joaquim por troca com o António Manuel» ou «que disparate acabou de fazer o Augusto Silva» e por aí adiante. Outras vezes, a gente chega a pensar que o nome é função. Dizem o Marcelo – assim mesmo, sem nome de família – quando deveriam dizer o Presidente da República. Desconhecem, seguramente, que o artigo definido antecede a função e que, formalmente, as declarações são importantes e justificam divulgação, por se tratar do Chefe do Estado, de um dirigente partidário ou desportivo, de um deputado ou de um médico, conforme o contexto, e não por terem proferidas por sicrano ou beltrano. Aliás, é até curioso verificar que algumas dessas pessoas, logo que deixam as funções, desaparecem, pura e simplesmente, do espaço mediático.

Outro exemplo desta enervante familiaridade é a entrevista em que o entrevistador trata por tu o entrevistado. Não há o mínimo de preocupação com a lei do distanciamento. E se se trata de entrevistar um futebolista, como Cristiano Ronaldo, nada como mostrar claramente que o jornalista faz parte do círculo mais próximo da estrela.

Mas voltemos aos disparates. Pelo que leio e oiço, já ninguém lança um alerta ou manda um recado. Agora, deixa. O verbo deixar adquiriu outro valor semântico e serve para tudo. Para recado, alerta, aviso, etc… Já o verbo pôr caiu no esquecimento. Colocar também serve para tudo. Já não se põe os pontos nos i, coloca-se. Qualquer dia, ainda vamos ouvir alguém dizer: olha que te coloco no olho da rua!

Preocupante é também verificar que tanta gente desconhece que desde é advérbio de tempo. Exemplos: «… vindo o criativo desde a faixa». Este excerto foi copiado de um diário desportivo, mas, com mais frequência se ouve nas televisões e nas rádios «desde Madrid… fulana de tal» ou «desde Luanda… sicrano» ou aquela outra forma, igualmente, disparatada, «a partir de Madrid, a partir do estádio do Dragão…», como se fosse preciso dar ideia de movimento, sempre que faz uma ligação ao exterior.

Desde é, nestes casos, um castelhanismo, como pontos percentuais são um anglicismo. Em Portugal, nas décimas, centésimas e milésimas usam-se vírgulas e não pontos. Os pontos são preciso, isso sim, nos ordinais, por exemplo (51.º) para que não apareçam com sentido errado, como se vê amiúde nos jornais e nos rodapés dos noticiários escritos de forma que a leitura sugere graus. Da temperatura ou dos ângulos. Por falar em ordinais, apetece-se ainda dizer que me vou convencendo de que muita gente nem sequer os sabe ler. Exemplo: fulano de tal é o 121 do ranking tal, em vez de centésimo vigésimo primeiro. E não me venham, por favor, com a treta de que é mais curto e inteligível…


A escrita, mas sobretudo o que se diz nas rádios e nas televisões, revelam bem, além da má preparação ou da preguiça de muitos profissionais, como somos pequeninhos e tacanhos. Fala-se como se estivéssemos no café à conversa com amigos e, na escrita, reproduzem-se os dislates com que diariamente nos ferem os ouvidos. Por isso mesmo, aqui deixo um recado – esforcem-se, aceitem humildemente as correcções de quem sabe mais – e lanço um alerta: a preguiça é má conselheira e enveredar pela via do lugar- comum e do facilitismo é o caminho mais rápida para a incompetência. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Só podia dar no que deu: Brexit!

Quando a avareza se sobrepõe à partilha, quando o egoísmo vence a solidariedade, quando interesses mesquinhos, a coberto da promessa de um nacionalismo redentor, mobilizam o cidadão, só podia dar no que deu. Quase 52% dos britânicos decidiram-se pelo abandono da União Europeia (UE) e o chamado poder europeu pode estar ferido de morte. Depois do Reino Unido, qua acabará por se desagregar, outros Estados-membros vão querer regressar ao passado e, passo a passo, acabará a própria União Europeia por se desmembrar.

Cada vez mais fica claro que globalização e integração são eufesmismo de uma política de exploração desenfreada de baixos salários e de aniquilação de direitos sociais que os burocratas de Bruxelas vêm pondo em prática sobretudo desde o início dos anos 90 no interesse dos grandes poderes económicos e total desprezo pela vontade popular expressa em votos.

Entre as muitas possíveis consequências do Brexit está, sem dúvida, uma muito provável guinada à direita, aglutinando gente que faz do nacionalismo, do populismo, do racismo e da xenofobia o fermento das suas forças.

A União Europeia são centenas de milhões de pessoas e não números simplesmente. Por mais que certos políticos e burocratas da política invoquem a frieza de cifras em folhas excel não há projecto humanista que possa vingar, se não houver ética e respeito pela dignidade humana. O lucro pode mover uma sociedade, mas não pode ser razão de tudo.


As políticas definidas por Bruxelas são podiam dar no deu: Brexit! E outras saídas se prenunciam já. Se a União Europeia ainda tem salvação, o que duvido muito, muita coisa vai ter de mudar depressa, a começar no respeito pelo cidadão e pelo seu voto. 

domingo, 19 de junho de 2016

Outra forma de mostrar e de ver o Euro-2016

Na Alemanha, os jogos do Euro-2016 são transmitidos em alternância pelos canais públicos ARD (1.º canal) e ZDF (2.º canal): os jogos são comentados no estádio por um só jornalista, tido como «expert» e, quem vê e ouve, percebe como eles estão bem preparados e sabem o que é comentar uma partida de futebol em televisão. Desde logo, não se perdem em palavreado interminável e narrações do óbvio, aquilo que o espectador está a ver. E até os nomes dos jogadores são pronunciados correctamente. Sei do que falo, porque já várias vezes fui eu que lhes ensinei os portugueses. Já agora, quando vivi na Alemanha, trabalhei na rádio e foi lá que aprendi que este pormenor – profissionalismo exige ou deveria exigir boa pronúncia dos nomes: basta uma chamada para a embaixada do país da respectiva selecção ou equipa. Há sempre alguém que ajuda. É que não há nomes impronunciáveis. Melhor ou pior, treinando-se, consegue-se sempre.


O lançamento do jogo é feito em estúdio por um moderador com outro «expert» - Mehmet Scholl, no ARD, e Oliver Kahn, no ZDF, ambos antigas estrelas do Bayern de Munique; no intervalo ambos comentam a primeira parte e, no final, comentam o jogo. Quando a partida termina, se o jogador fala alemão, a conversa de estúdio dá lugar à «Flash interview»; se não fala, poucos minutos depois, ouve-se o que ele disse com gravação simultânea. Há que esperar apenas o tempo de tradução e da gravação da voz «off». Sempre que joga a selecção alemã, é o seleccionador que se dirige ao estúdio improvisado no estádio, para se submeter às perguntas de um ou uma repórter. Pode também aparecer um jogador que se tenha destacado, ou não. Tudo como deve ser: conversa em ambiente de serenidade, sem ruídos de fundo nem gritos histéricos. Mas também fica claro que a federação alemã colabora com os canais que transmitem os jogos e abre as portas dos estágios nas vésperas dos jogos para que os «media» possa tem acesso aos jorgadores e não só. Boas práticas. 

Feito isto, pode ainda haver uma ou outra peças sobre a selecção alemã e sobre outras, bem como sobre o país ou os adversários da Alemanha, ou sobre os mais diversos apectos: curiosidades, históricos, etc… E termina sempre com uma montagem de texto e imagem sempre carregada de muito humor. Tudo em 30 a 45 minutos após o jogo.

Depois, a vida continua… Sempre que posso, é nestes canais que vejo o Euro, jogos de Portugal incluídos. Neste caso, sinto-me feliz por falar alemão e lamento que não seja uma língua que a esmagadora maioria dos portugueses falem e compreendam. 

sábado, 18 de junho de 2016

Quem não se sente, não é filho de boa gente

Seleccionador nacional, Fernando Santos (FotoFPF)
O seleccionador nacional saiu em defesa de Cristiano Ronaldo, alvo de críticas após o jogo com a Islândia. Compreende-se. Desde logo, para proteger o jogador, para lhe fazer ver que ele tem toda a protecção no grupo. 

Fernando Santos tentou desvalorizar as críticas e aproveitou a ocasião para tecer ele também críticas ao seleccionador da Islândia, outros elementos do «staff» e até ao público islandês pelo comportamento durante o jogo em relação a Pepe e a Cristiano Ronaldo. 

Disse ele: «quem não se sente, não é filho de boa gente». Tem razão. Mas não inteiramente, quando pretende justificar um comportamento criticável – queria ou não queira vê-lo assim – com outro igualmente criticável. Cristiano Ronaldo é mais do que o melhor jogador da selecção, da Europa e do mundo. Cristiano Ronaldo é hoje uma estrela planetária, um ídolo, inclusivamente idolatrado por muitos. Creio que ele tem consciência disso. Tem de ter. 


O estatuto que alcançou exige, por isso mesmo, comportamento adequado. Frustrado ou zangado com o empate, Cristiano Ronaldo não pode deixar de saudar os apoiantes no final da partida, de lhes agradecer o apoio. Mais, enquanto capitão, deve ser a aglutinar os restantes companheiros de equipa e até os do banco. Muita daquela gente que vai aos estádios em França vai também para vê-lo e espera dele um sorriso, um aceno, um gesto. E entre muita dessa gente – sobretudo entre os nossos compatriotas a trabalhar em França e em países vizinhos – há também quem pense como Fernando Santos: «quem não se sente, não é filho de boa gente».

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Do sonho à realidade vai a distância da vontade

O desalento expresso no rosto de Pepe (Foto UEFA)
Em competições como um Campeonato da Europa ou um Mundial, há golos que valem sempre mais do que o mero êxito desportivo. Os de Gareth Bale e Hal-Robson-Kalu (País de Gales), de Ádám Szalai e Zoltán Stieber (Hungria) ou de Birkir Bjarnason (Islândia), representantes de três pequenos países como Portugal, para os quais uma vitória numa competição desta grandeza chega a ser vista como algo mais importante do que um voto favorável nas Nações Unidos a favor de uma qualquer causa em que estejam empenhados. Desde logo, pela projecção mediática alcançada. 
Assim sendo, questiono-me sobre se a selecção portuguesa tem alguém com a responsabilidade de preparar também os jogadores para outras questões que não sejam só dos domínios técnico, táctico, estratégico, psicológico, etc...

Hoje em dia, conhecer o país da selecção que se vai defrontar, um pouco da sua história, a mentalidade e a forma de ser do seu povo pode ajudar, e muito, a atitude a assumir em campo durante os 90 minutos de jogo. Que o digam os jogadores franceses e russos.

 Neste grupo de pequenos países entram também a Albânia, cuja selecção vendeu cara a derrota com a França e a Eslováquia, que, venceu a Rússia (2-1) com mérito e justiça, um dia depois do desaire de Portugal. Os nomes dos seus heróis: Vladimír Weiss e Marek Hamsík. E tanto no Rússia-Eslováquia como no França-Albânia de ontem, viu-se também como vencedores e vencidos se empenharam. Podem ser invocados erros e falhas de ambos os lados, mas ninguém pode criticar quem quer que seja nestas duas partidas por falta de entrega e de querer.

Podem os jogadores portugueses proclamar orgulho em defender as cores nacionais, e acredito que sentem, mas têm também de estar sempre conscientes de que do outro lado do campo estão ou podem estar outros que sentem tanto ou mais orgulhosos do que eles, tanto ou mais motivados do que eles.

Ser favorito não basta. Do sonho à realidade vai, antes de mais, a força da vontade. E essa nem sempre foi evidente no jogo com a Islândia. Por isso, Portugal não venceu na estreia. Também não basta patentear melhor qualidade futebolística do que o adversário – e ela foi mais do que evidente. Como escreveu ontem, n´O Jogo, o agora treinador e seleccionador do Gabão, Jorge Costa, aos jogadores portugueses «faltou convicção». Sem ela, a França nunca teria vencido a Albânia.


sexta-feira, 10 de junho de 2016

Haja paz e festa no Europeu de Futebol, em França

Os atentados de 13 de Novembro de 2015, em Paris, foram em parte, o último atentado contra um acontecimento desportivo: o jogo amigável entre a França e Alemanha, ensombrado por várias explosões, que espalharam mortos e feridos em redor do estádio. A França venceu (2-0), mas o resultado, neste caso, é a coisa menos importante.

Até ao atentado contra a Maratona de Boston, no dia 15 de Abril de 2013, que matou três pesssoas e fez ainda 264 feridos, só uma vez tinha o desporto sido alvo de acção terrorista, esta nos Jogos Olímpicos de Munique, no dia 5 de Setembro de 1972, e que vitimou 11 reféns israelitas, um polícia alemão e cinco terroristas palestinianos.

Dada a popularidade do desporto, em geral, e do futebol, em particular, pensava-se – ou assim se pensou pelo menos até fatídio dia 5 de Abril de 2013, em Boston – que nunca mais uma acção terrorista seria desencadeada contra um acontecimento desportivo. Sempre se pensou que o receio de perda de simpatias e de apoios fizesse pender o prato da balança para o lado da sensatez, na hora de decisão, permitindo que qualquer acontecimento desportivo decorresse em paz e em festa, como deve ser.

Vivi, no Tour de 1996, a amarga experiência de sentir o medo de um atentado. A competição tinha uma etapa que terminava, em Pamplona (Espanha), terra-natal de Miguel Induráin, ao tempo a grande figura da Banesto e do cilcismo mundial, e até ao dia da chegada, o director da prova, Jean-Marie Leblanc, não fez outra coisa senão negociar com a ETA, que ameaçava com recurso à bomba impedir a entrada do Tour na cidade. Felizmente, as negociações tiveram êxito, mas não impediram que eu tivesse talvez o maior susto da minha vida, quando um petardo explidiu a uns 500 metros do hotel onde dava entrada, concluído o trabalho para o jornal.

Infelizmente, a sensatez não parece ser atributo de quem não se importa de vitimar gente inocente. Os riscos existem agora ao dobrar da esquina. Em França ou em qualquer outra parte do globo. Mesmo assim, olho para o Europeu de França, que hoje começa, como oportunidade de mostrar ao mundo que os povos não têm medo do terrorismo e formulo votos de paz e festa, mesmo quando, como já se viu, na noite de quinta-feira, em Marselha, grupos de hooligans teimam em mostrar que o terrorismo tem diversas facetas. 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Certezas tecnológicas e dúvida metódica

O recurso a meios tecnológicos como forma de ajudar a impor transparência no futebol está novamente na ordem do dia. Em Portugal, pelo menos. Parece-me, contudo, que, com isso, se procura resolver um problema a jusante, quando, afinal, recomendável seria combatê-lo a montante.

«A FPF pertence ao grupo das federações que concordam com a introdução das novas tecnologias e queremos que seja testada no Mundial 2018. Não esperamos que os erros sejam todos evitados, mas que sejam atenuados», defendeu, na semana passada, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, no congresso The Future of Football, organizado pelo Sporting, em Alvalade.

Muito antes dele, já o comentador televisivo, Rui Santos, tinha conseguido, até, pôr em marcha uma campanha que aglutinou os ao tempo presidentes da FPF, Gilberto Madaíl, e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Hermínio Loureiro, ao lado de amplo leque de individualidades dos mais diferentes sectores da sociedade portuguesa, que culminou com a entrega de um documento na Assembleia da República, no dia 5 de Janeiro de 2010. Tratou-se de uma petição on-line, que contou mesmo com o apoio institucional da Presidência da República, bem como de clubes como o Benfica, o Sporting e o Sporting de Braga, entre outros.

Também recentemente o subdirector de A BOLA, José Manuel Delgado, se regozijava, na sua coluna de opinião, com o facto de, como ele escreveu (cito de cor), Portugal estar entre os países da linha da frente no apoio ao recurso a meios tecnológicos de suporte aos árbitros de futebol. «A aposta nas novas tecnologias é um pilar da nossa estratégia. A próxima final da Taça da Liga será um momento-chave nessa aposta», anunciou o presidente da LPFP, Pedro Proença, outro dos oradores do referido congresso. «Queremos e teremos uma final altamente tecnológica», prometeu.

É de acreditar na promessa, mas não é de crer que todas as dúvidas que atormentam muita gente fiquem dissipadas. Desde logo, porque os meios tecnológicos não actuam sozinhos. São manipulados por mãos e olhos de humanos. Depois, quem assegura a igualdade de tratamento para todas as equipas em estádios cuja configuração é tão diferente? Com quantas câmaras e em que localização? O do Sporting de Braga com apenas duas bancadas laterais ou o do Benfica e do Sporting, praticamente fechados, ou aqueles com apenas uma bancada, cuja cobertura, em alguns casos, nem sequer é da extensão da própria tribuna.

Acresce a tudo isto uma questão financeira e que não é de somenos. Imagine-se só em quanto poderá orçar a instalação de tais equipamentos em 32 estádios no actual quadro competitivo profissional nacional (18 da I Liga e 24 da II) ou mesmo que ele venha, posteriormente, a ser reduzido! Ou será que os meios tecnológicos auxiliares da arbitragem se destinariam aos jogos em que intervêm os chamados três grandes ou apenas a alguns?

Os números apresentados por Pedro Proença, em Outubro de 2014, quando ainda no activo, já defendia o apoio de meio tecnológicos como uma inevitabilidade, são elucidativos. «Mais cedo ou mais tarde, vamos ter de aceitar que o futebol é escrutinado pelos meios tecnológicos. Não conseguimos vencer contra 15 ou 16 câmaras. Os meios tecnológicos são muito bem-vindos e os árbitros recebem-nos de abraços abertos, porque querem errar o menos possível», disse, então, o antigo árbitro internacional, na sessão de abertura oficial do XIII Encontro Nacional do Árbitro Jovem, na Batalha. Porém, mesmo quando tantas câmaras são utilizadas, é frequente ver-se em programas de televisão que nem todos os intervenientes conseguem chegar a uma conclusão unânime, confirmando ou contrariando a decisão do juiz da partida.

O futebol deve muito à televisão. Sem ela, jamais teria alcançado o estatuto de único fenómeno verdadeiro globalizado, como defende, e bem, Pascal Boniface, no seu livro O Mundo é Redondo Como Uma Bola. Contudo, no nosso País, continua a haver programas desportivos que vão contribuindo muito mais para o clima de suspeição reinante no futebol nacional do que para o esclarecimento de dúvidas em relação às decisões dos árbitros ou até dos erros que eles possam ter cometido. E, como se isso não bastasse, os casos em análises dizem, por norma, apenas respeito aos jogos em que intervêm as equipas do FC Porto, do Benfica e do Sporting, como se as outras equipas não contassem para o… campeonato.

Além disso, como se isto não bastasse ou, mais grave, de tanto serem «dissecadas» as decisões dos árbitros, como recurso às imagens televisivas, que eles tiveram de tomar em fracções de segundos, o que sai desses programas é a ideia de que eles são gente mal-intencionada e origem de todos os males do futebol nacional. Há ideias que mil vezes repetidas acabam por se tornar verdades absolutas. E, claro, não espanta que se enraíze em muita gente a ideia de que o árbitro é mal maior.

Ora, como nada me convence que esses programas vão deixar de existir, pelo menos enquanto tiverem audiências – são as leis do mercado, dizem – cada vez mais me convenço também de que, enquanto nada for feito a montante do problema, ele nunca será resolvido, por mais meios tecnológicos que sejam ou possam vir a ser utilizados no apoio ao árbitro. O grande investimento, a meu ver, deve ser feito na educação cívica, na cultura desportiva, tarefa que deveria ser assumida sem tibiezas, em primeiro lugar pela Liga, mas também pela Federação, ou não fossem ambas entidades de utilidade pública. As competições estão prestes a chegar ao fim, mas ainda há tempo para reflectir e tomar decisões, antes do início da próxima época.


Até lá, vou continuando a pensar o mesmo que disse, no passado dia 23, o antigo e prestigiado árbitro internacional italiano, Luigi Agnolin, ao jornal O Jogo. Novas tecnologias «só a do golo e ‘não golo’». O resto, como ele acentua «é jogo». E hoje, sabe-se, que uma bola com um simples chip indica logo, com um sinal luminoso ou sonoro, se foi golo, ou não. Além disso, como lembrou, em bem, Agnolin, «quando se pede para que um árbitro não apite mais, é só para criar barulho […] O dirigente pensa sempre que o erro é de outra pessoa». O dirigente e não só. É que, como ele também lembrou, «se um jogador atira a bola para fora a dois metros da baliza e é desculpado, da mesma maneira se deve analisar os erros dos árbitros». Ou será melhor descobrir apoio tecnológico para colocar na biqueira das chuteiras ou nas luvas dos guarda-redes como o que já existe em bombas e mísseis e que permitem manipulá-los com precisão até ao alvo? 

quarta-feira, 23 de março de 2016

A vida humana tem de continuar a valer o mesmo em qualquer parte do mundo

Marcas de uma manhã de terror e horror
Em Março de 2004, sem querer, horrorizei uma camarada espanhola, com a notícia dos atentados de Madrid. Ela estava numa reunião sindical na Hungria, o que eu desconhecia, e saiu da sala para atender o meu telefonema, pensado tratar-se de um qualquer assunto do âmbito da reunião, posto que tínhamos estado alguns anos no Comité Director da Federação Europeia de Jornalistas.
Hoje, de manhã, fui eu apanhado, pela notícia dos atentados de Bruxelas, quando seguia para o aeroporto de Schoenefeld, em Berlim e, de novo, a raiva e a consternação se apoderaram de mim, a par do receio de que algo pudesse visar igualmente a capital alemã.
Uma vez mais, dezenas de vítimas inocentes, milhares se juntarmos os actos hediondos de Nova Iorque, de Londres, de Oslo, de Paris ou de Istambul, que todos os amantes da democracia, da tolerância e da paz não podem deixar de condenar.
Mas, de novo, me vem também à memória as milhares de outras vítimas inocentes de outros continentes causadas por quem despreza vidas humanas em nome de um pretenso ideal, mas que, por nos serem distantes, parecem não causar a mesma dor.
Sinto a dor dos familiares de todas estas vítimas (as de ontem e as de hoje), sinto com elas a mesma revolta, partilho da mesma raiva, mas continuo sem compreender o porquê da menor importância que lhes é dada pelos órgãos de informação, como se essas vidas humanas de países tão distantes, em África, no Médio Oriente, na Ásia ou na América Latina, fossem menos importantes do que as da Europa ou dos Estados Unidos da América.
E não venham falar da lei da proximidade, que eu sou jornalista, e sei que não explica tudo.

Uma vida humana tem de continuar a valer o mesmo em qualquer parte do mundo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Agitação nos mercados

Não entendo, por isso, as preocupação do ainda presidente da República Portuguesa e muito menos de um tal Wolfgang Schäuble, na Alemanha, ministro das Finanças, mas cujo nome só citado em Portugal, por estar, sempre que fala de Portugal, a bandeira da agitação dos... mercados, essa entidade que há tanto persegue aqueles que entendem, e bem, que o destino de cada povo e de cada país deve estar sempre nas mãos dos seus legítimos representantes eleitos.
É que também nunca vi essa tal entidade - os mercados - se disponibilizarem vez alguma a ajudar aqueles que, por circunstâncias várias, estão a passar por fases mais difíceis da vida.

Enfim...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A propósito de mais um aniversário

A BOLA faz hoje 71 anos. Por isso, comprei. Queria ver o que lá se diz sobre mais este aniversário. Além do editorial do Director, Vítor Serpa, quatro páginas. As centrais do jornal. Coisa pouca, digo eu. Sei que não é data redonda e sei que, qualquer um de nós, comum mortal, também não faz grande festa em todos os dias que completa mais um ano. Mesmo assim, tenho a certeza de que haveria mais para dizer.

Como diz o Miguel Cardoso Pereira (MCP), o rosto é importante, mas o corpo também o é – e de que maneira! - e esse, quer se queira, quer não, é o papel, a raiz que sustenta o grupo. O online já tem tronco, a televisão também, mas ainda frágil, capaz de tremer ao primeiro tufão que a atinja. Já as revistas e os suplementos diversos não têm passado de folhas. Caducas, como se tem visto. Infelizmente.

Mesmo assim, A BOLA resiste. Porque é uma instituição respeitada, uma instituição que chegou a ser apelidada de Bíblia, onde um dia entrei pelas mãos de um homem do teatro, o João Lourenço, e com apoio do Carlos Pinhão, primeiro, e do Homero Serpa, já no dia- a-dia, depois de o Chefe (Vítor Santos) me ter admitido. Sim, a palavra dele era uma sentença e fez com que também realizasse um sonho.

Hoje, estou de fora, vejo agora as coisas com algum distanciamento, mas não desapaixonadamente. Por isso, reconhecendo, naturalmente, a importância da geração jovem do jornal, para que ele possa continuar a ter futuro, não posso ignorar que A BOLA «sempre foi um jornal com História e com memória», como escreveu Vítor Serpa e, nesse sentido, custou-me ver que a nomes do presente, sobretudo àqueles que em toda a vida só vestiram uma camisola e cuja dedicação e entrega representam vigas e traves-mestras da casa, não tenha sido dado voz. Penso no Carlos Rias, no Rogério Azevedo, no António Simões, no Miguel Correia e não esqueço o Santos Neves, que embora também já fora da Redacção, foi um dos chefes da transição.

E, meu Caro MCP, porque enunciar nomes é sempre um risco, lamento que tenham ficado esquecidos outros do Porto e da Madeira, porque, como sabes, A BOLA não é só Lisboa, nem é só a Redacção. O sucesso, escreve Vítor Serpa, «foi, é e será conquistado por pessoas. Por pessoas, em carne e osso. Por pessoas, com conhecimento e saber».


A meu ver, todas são importantes. Umas mais do que outras, mas são. Contudo, deixam-no de o ser, quando outros olham para elas apenas como um número. Até em casa pequenas, como A BOLA. 

Aproveito para formular votos de longa vida a A BOLA. 

Vem aí o futuro!

    O SNS vai melhorar, os médicos vão trabalhar menos e ganhar mais, os professores vão receber o atrasado, a TAP só vai dar lucro... O Pa...