Faz hoje precisamente 20 anos que a
pequena cidade de Lens, no noroeste de França, foi palco de um dos mais graves
e violentos incidentes, que não só manchou o Mundial que decorria no país como
a imagem da Alemanha.
Naquele já longínquo dia 21 de Junho, um
domingo, a selecção alemã defrontava a congénere Jugoslávia, e Lens atraiu,
naturalmente, muita gente para o que se pensava ser uma festa, dentro de fora
do estádio. Porém, entre os visitantes, um grupo se destacou pelos piores
motivos, hooligans germânicos, que,
aos gritos de «estamos de novo em marcha», fazendo lembrar a ocupação da cidade
pelos alemães nas duas guerras mundiais, não só destruíram bares, vitrinas e
janelas, cadeiras e esplanadas e, mais grave ainda, espancaram um polícia com
tal violência, que ficou incapacitado para a vida inteira.
«Saímos de autocarro no sábado, à noite,
passámos a viagem a beber e nem dormimos. Manhã cedo, entrámos no primeiro bar
e noutros durante todo o dia», confessou, em tribunal, Markus F., citado pela Kicker online. Mas a embriaguez não justifica tudo. Na mente
daquela gente havia algo de premeditado e sádico prazer pela violência gratuita.
A vítima chama-se Daniel Nivel, tinha
então 43 anos, que foi barbaramente espancado durante dois minutos. «Aquilo não
era pontapear, era esmagar», comentou mais tarde Walter F., o autor da foto que
correu o mundo. Balanço trágico: múltiplas fracturas de crânio, fractura de uma
cavidade ocular, lesão de uma vértebra cervical e perda de massa encefálica.
O então chanceler alemão, Helmut Kohl,
qualificou os incidentes como «vergonha para o país», enquanto Egidius Braun,
ao tempo presidente da Federação Alemã de Futebol chegou a admitir retirar a
selecção da competição.
Daniel Nivel só recuperou a consciência depois
de ter estado seis semanas em coma no Hospital de Lille e só então se apercebeu
da gravidade das lesões. Pai de dois filhos, o ex-agente da Gendarmerie tem metade do corpo
praticamente paralisado, parcialmente cego e mal pode falar e cheirar.
Recordar é preciso, para que jamais se
repitam cenas como aquelas que, há vinte anos, destruíram para sempre a vida de
agente da polícia francesa. Os valores que o desporto encerra são de paz e
tolerância com os quais se cimenta a amizade entre os povos em festas como
devem ser também as grandes competições.
Sem comentários:
Enviar um comentário