Não é no futebol que revejo o meu amor à pátria e muito menos embarco num
nacionalismo bacoco e populista que surge sempre que há campeonatos da Europa
ou do Mundo e que cresce e se reforça à medida que a selecção avança no
calendário. Tenho noção exacta de como o futebol é capaz de aglutinar
comunidades, ao ponto de fazer com que uma equipa se transforme em símbolo de
uma identidade.
Entendo, porém, que este orgulho não deve fechar portas a quem, vivendo
entre nós e connosco, se revê também na alegria dos golos desse futebolista de
eleição nascido na Madeira ou de que qualquer outro futebolista português, como
nepalês que veste a camisola de CR7 ou paquistanês, que ainda aproveita a que
tinha do tempo em que Deco foi também estrela do FC Porto e do onze nacional.
Aliás, o exemplo é dado pela própria selecção, ao integrar jogadores filhos de
guineenses, cabo-verdianos, angolanos, brasileiros… e que já nasceram cá ou, se
não nasceram, se identificam como portugueses, como eu. Pepe é um bom exemplo.
Tão bom, que até é um dos capitães da equipa.
E penso também no que o futebol e a selecção representam para os
portugueses que tiveram de emigrar e muito mais ainda para os seus filhos e
netos que, da pátria com que se identificam, por vezes, pouco mais sabem do que
ouvem as famílias contar. Comunidades que esperam também dos povos que as
acolheram compreensão e tolerância na hora dos festejos ou dos lamentos.
A nossa história diz-nos que temos sido ao longo de séculos um povo de
emigração, mas revela-nos hoje que somos também um povo de acolhimento, pelo
que, se desejamos que os outros nos aceitem, devemos saber igualmente receber
bem quem procura a felicidade no nosso País. Quem vem por bem, bem-vindo deve
ser sempre. Até porque a alegria de quem aqui vive, portugueses e não
portugueses, não deve estar dependente dos resultados de uma selecção de
futebol, embora todos saibamos que quantas vezes é ela que desperta nos rostos o sorriso tantas
vezes negado pela agruras da vida.
Não uso cachecol nem tenho bandeira na varanda, mas vibro com cada golo de
Cristiano Ronaldo, com qualquer golo dos jogadores portugueses, e enche-me de
alegria cada vitória da selecção nacional. Sofro a ver os jogos, sempre na
expectativa de que o remate leve a bola a bater no fundo da baliza ou
que Rui Patrício lhe trave o andamento, impedindo isso mesmo. Não sou,
portanto, imune às emoções que o futebol desperta… Vibro, claro, mas enche-me
também de alegria ver o meu vizinho estrangeiro festejar ou sofrer connosco.
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