domingo, 17 de junho de 2018

A vibrar, claro, mas sem bandeira nem cachecol


Não é no futebol que revejo o meu amor à pátria e muito menos embarco num nacionalismo bacoco e populista que surge sempre que há campeonatos da Europa ou do Mundo e que cresce e se reforça à medida que a selecção avança no calendário. Tenho noção exacta de como o futebol é capaz de aglutinar comunidades, ao ponto de fazer com que uma equipa se transforme em símbolo de uma identidade.

Entendo, porém, que este orgulho não deve fechar portas a quem, vivendo entre nós e connosco, se revê também na alegria dos golos desse futebolista de eleição nascido na Madeira ou de que qualquer outro futebolista português, como nepalês que veste a camisola de CR7 ou paquistanês, que ainda aproveita a que tinha do tempo em que Deco foi também estrela do FC Porto e do onze nacional. Aliás, o exemplo é dado pela própria selecção, ao integrar jogadores filhos de guineenses, cabo-verdianos, angolanos, brasileiros… e que já nasceram cá ou, se não nasceram, se identificam como portugueses, como eu. Pepe é um bom exemplo. Tão bom, que até é um dos capitães da equipa.

E penso também no que o futebol e a selecção representam para os portugueses que tiveram de emigrar e muito mais ainda para os seus filhos e netos que, da pátria com que se identificam, por vezes, pouco mais sabem do que ouvem as famílias contar. Comunidades que esperam também dos povos que as acolheram compreensão e tolerância na hora dos festejos ou dos lamentos.

A nossa história diz-nos que temos sido ao longo de séculos um povo de emigração, mas revela-nos hoje que somos também um povo de acolhimento, pelo que, se desejamos que os outros nos aceitem, devemos saber igualmente receber bem quem procura a felicidade no nosso País. Quem vem por bem, bem-vindo deve ser sempre. Até porque a alegria de quem aqui vive, portugueses e não portugueses, não deve estar dependente dos resultados de uma selecção de futebol, embora todos saibamos que quantas vezes é ela que desperta nos rostos o sorriso tantas vezes negado pela agruras da vida.

Não uso cachecol nem tenho bandeira na varanda, mas vibro com cada golo de Cristiano Ronaldo, com qualquer golo dos jogadores portugueses, e enche-me de alegria cada vitória da selecção nacional. Sofro a ver os jogos, sempre na expectativa de que o remate leve a bola a bater no fundo da baliza ou que Rui Patrício lhe trave o andamento, impedindo isso mesmo. Não sou, portanto, imune às emoções que o futebol desperta… Vibro, claro, mas enche-me também de alegria ver o meu vizinho estrangeiro festejar ou sofrer connosco.


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