sábado, 19 de novembro de 2022

Possam os «media» aproveitar os palcos abertos ao mundo para denunciar o que está mal e promover as boas causas

 


O Campeonato do Mundo de futebol começa, amanhã, em Doha, capital do Catar. Neste torneio, o mais mediático de todas as grandes competições desportivas deste ano, participam as selecções nacionais de 32 Estados. Porém, nenhum tão pequeno como o minúsculo emirado do Golfo, que quer ser gigante a qualquer preço e até à custa da violação de direitos humanos. O Catar tem estado, por isso mesmo, a ser alvo de críticas. Justificadas, diga-se, por mais que o presidente da FIFA venha agora tentar rebatê-las com argumentos que não eliminam as evidências.

Seja como for, quando a bola começar a rolar, no Estádio Lusail, em Doha, no jogo inaugural (Catar-Equador), o ritmo e o tom das críticas vai baixar seguramente, como tem acontecido ao longo da história. Mas isto não significa que o Mundial não possa nem deva ser aproveitado em prol de boas causas como o combate ao racismo e à xenofobia, a defesa dos direitos laborais, entre outras, em prol da tolerância, do entendimento entre os povos e da paz. Em resumo, em defesa dos direitos humanos.

Os palcos estão abertos ao mundo, a milhões e milhões de pessoas em todo o planeta. Queiram e possam público e jornalistas aproveitá-los. Não faltam exemplos demonstrando que os estádios foram, têm sido e podem continuar a ser palcos de manifestações de contestação a poderes estabelecidos ou de reivindicações de todo o tipo.

Recorde-se, a final da Taça de Portugal de 1969, no Estádio Nacional, entre Benfica e Académica, em que a equipa de Coimbra jogou de faixa branca no braço como sinal de luto e protesto contra a repressão policial que se abatera sobre a academia. Neste caso, a política impôs mesmo o seu poder, ao impedir que uma das estrelas da equipa academista, Artur Jorge, que estava a fazer a tropa em Mafra, fosse dispensado para poder participar nesse jogo. Motivo: o regime considerava-o o cabecilha do protesto.

Em Espanha, durante o regime franquista, o Barcelona, para os catalães, ou o Atlhetic Club Bilbao, para os bascos, representavam o mesmo tipo de afirmação ante o Real Madrid, o clube de Franco e de Espanha. Podia-se falar basco ou catalão nos estádios, o que não era possível noutros lugares públicos. Os dois clubes eram símbolos da resistência, simultaneamente étnica e política, à tirania.

Veja-se o caso da Argentina, cuja ditadura militar organizou o Campeonato do Mundo de 1878, seguramente com o objectivo de que o mundo a reconhecesse. A história já tinha mostrado que a participação com êxito ou a organização de grandes eventos desportivos como Jogos Olímpicos ou campeonatos do Mundo permitiram por essa via a legitimação de regimes ditatoriais e autoritários. Entre os piores exemplos estão o Mundial de 1934, na Itália do ditador fascista, Betino Mussolini, e os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, quando à frente da Alemanha já estava o líder nazi, Adolf Hitler.

Na Argentina, porém, aconteceu precisamente o contrário. Nunca de modo tão intenso foi a ditadura militar tão duramente criticada. Os estádios transformaram-se durante a competição nas maiores concentrações populares, uniu o povo argentino em torno da sua selecção, de tal modo que o seleccionador nacional, Luís César Menotti, e vários futebolistas dedicaram a vitória ao povo e não ao país ou ao regime e, além disso, a imprensa internacional acabou ser veículo de denúncia das atrocidades cometidas pelos militares. Nas bancadas dos estádios, ouviu-se com frequência a multidão a gritar: se va acabar, se va acabar, la dictadura militar!

«O desporto é uma linguagem universal e, no melhor das suas capacidades, há nele um poder agregador, unindo as pessoas, quaisquer que sejam a sua origem, meio social, convicções políticas, crenças religiosas ou a sua situação económica». A frase é do antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e foi proferida na cerimónia de lançamento do Ano Internacional do Desporto e da Educação Física, em 2005.

 


quinta-feira, 9 de junho de 2022

LEMBRANÇA

 

LEMBRANÇA – Fiz quase 3.000 quilómetros de comboio para estar na primeira Festa do Avante, vindo de Berlim (ex-RDA). Sem EP – desconhecia que era preciso comprar com antecedência – já pensava que ficaria à porta da antiga FIL, quando, de repente, vejo diante de mim aquele homem grande de barba, o Adriano, que conhecia de Lisboa e que voltei a reencontrar numa das idas dele ao Festival da Canção Política, em Berlim. E foi com ele que consegui andar no meio daquele mar de gente, bebericando em tudo que era stand com petiscos regionais e um copo. Em boa hora. Por tudo. Acima de tudo, por uma bela amizade, ainda que curta. Mas inesquecível. Oiço emocionado a tua voz cristalina com enorme saudade. Um forte abraço, Adriano, onde quer que estejas.

https://www.youtube.com/watch?v=yPT_Ka0ajOI



Vem aí o futuro!

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