sábado, 14 de julho de 2018

Futebol na TV ou os perigos da ideologia 3G


Já foram os «Donos da Bola», já fizeram «Jogo Limpo», mais tarde acrescentaram, «Trio de Ataque», «Mais Futebol» e «Prolongamento». Outros nomes de programas de televisão dedicados ao futebol poderiam sem mencionados. Estes foram os que primeiro me vieram à cabeça e até dão jeito. Os nomes, claro, que o conteúdo, as mais das vezes, quando não mesmo por regra, está longe de poder satisfazer quem quer que seja com um mínimo de bom senso.

Tal como nos programas de cariz política se verifica que há uma ideologia marcando claramente raciocínio e pensamento dos comentadores – neoliberal, diga-se – uma outra, ainda que mal disfarçada, se percebe também nas palavras dos que alegadamente comentam futebol, que bem poderia ser designada por 3G, tal a submissão aos chamados três grandes.

Nas transmissões dos jogos em directo ouve-se com frequência o comentador recorrer, entre outras expressões, ao bloco alto e ao bloco baixo, ainda que sem qualquer afinidade com uma outra (bloco central), esta retirada da linguagem política. Seja como for, a ideologia 3G representa aqui o poder e quem a defende não tolera que outros possam sequer aproximar-se deles.

Assim, se para muitos desses comentadores o poder político em Portugal só deveria estar nas mãos do PS e do PSD, no futebol o poder deve continuar a ser feudo do FC Porto, do Benfica ou do Sporting, de alianças pontuais entre eles ou dos três em conjunto. São os que vendem, dizem os defensores da programação televisiva dedicada ao futebol. E que vendem as televisões: tricas e brigas, rumores e especulações, debates acalorados sem qualquer importância, que, com frequência, significam muitos mais apelos à irracionalidade do que exemplos de desportivismo e respeito pelo adversário.

Do que se sabe até agora, nada faz supor alterações significativas na programação das televisões. E é pena, porque, como escrevia hoje [sábado] o director de O Jogo, ela «funciona como telescola para cadetes e adeptos». José Manuel Ribeiro referia-se, sobretudo, à batota, reconhecendo que «estamos a ficar anestesiados (ou cúmplices) a todas as vigarices, pulhices e sonsices, fora e dentro do relvado». É triste e pode ser dramático.

O peso e a importância do futebol nas sociedades modernas e avançadas merece outro tipo de abordagem, séria e rigorosa. Sem ela, estarão as próprias televisões a fomentar cancros no desporto mais popular à superfície da terra e, em última análise, a matar uma galinha dos ovos de ouro.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

O VAR não resolve, só pode ajudar

O Mundial de futebol está a chegar ao fim. No domingo se saberá quem é o novo campeão do mundo, se a surpreendente Croácia ou previsível França.

Como se viu, o caminho destes e das restantes equipas que participaram nesta competição, foi também marcado pela actuação do VAR, nem sempre pelas melhores decisões. Mas viu-se também que o VAR pode ajudar o juiz de campo, mas está longe de resolver todos os problemas com que ele se depara durante o jogo e está, por isso, longe de ser garante de transparência e imparcialidade.

Não quero, porém, dizer com isto que o árbitro e os seus auxiliares beneficiam ou prejudicam equipas de forma premeditada. Venho apenas constatando que, agora na Rússia, tal como antes em Portugal, ao longo de toda época finda, o VAR só pode ser um auxiliar precioso em determinadas situações que escapem aos olhos do árbitro. Não mais que isso. A decisão continuará a ser tomada por um ser humano e não por uma máquina.

Assim sendo, tanto ou mais do que continuar a investir em tecnologias que possam ajudar o árbitro, importa apostar forte a montante na formação e na educação desportiva do praticante – desde os primeiros pontapés na bola – mas também dos próprios árbitros, dos dirigentes desportivos, até dos jornalistas e do público em geral.

Em Portugal, a força das televisões tem tido, infelizmente, muito peso na (des) educação do público e os restantes media nem sempre ajudam, mas a Liga e a Federação têm igualmente grande responsabilidade neste domínio. O futebol profissional é hoje em dia um espectáculo desportivo e um negócio e é a Liga que tem o dever de promover e defendê-lo no espeito pela ética e os valores que devem dar-lhe forma, enquanto à Federação compete preparar e formar praticantes, árbitros e dirigentes. Sem isso, buscar refúgio na tecnologia significa apenas demitir-se da responsabilidade humana.


O caminho até este dia não foi fácil para qualquer uma destas selecções, sobretudo para a croata, que, em Moscovo, vai entrar em campo com a carga de três prolongamentos nas pernas dos seus jogadores. E o onze inicial tem sido quase sempre o mesmo. Contudo, a presença na final é como a camisola de líder numa competição velocipédica, um estímulo extra, que parece atenuar fadiga física e mental.

Vem aí o futuro!

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