Já foram os «Donos da Bola», já fizeram
«Jogo Limpo», mais tarde acrescentaram, «Trio de Ataque», «Mais Futebol» e «Prolongamento».
Outros nomes de programas de televisão dedicados ao futebol poderiam sem
mencionados. Estes foram os que primeiro me vieram à cabeça e até dão jeito. Os
nomes, claro, que o conteúdo, as mais das vezes, quando não mesmo por regra,
está longe de poder satisfazer quem quer que seja com um mínimo de bom senso.
Tal como nos programas de cariz política
se verifica que há uma ideologia marcando claramente raciocínio e pensamento
dos comentadores – neoliberal, diga-se – uma outra, ainda que mal disfarçada,
se percebe também nas palavras dos que alegadamente comentam futebol, que bem
poderia ser designada por 3G, tal a submissão aos chamados três grandes.
Nas transmissões dos jogos em directo
ouve-se com frequência o comentador recorrer, entre outras expressões, ao bloco alto e ao bloco baixo, ainda que sem qualquer afinidade com uma outra (bloco
central), esta retirada da linguagem política. Seja como for, a ideologia 3G
representa aqui o poder e quem a defende não tolera que outros possam sequer
aproximar-se deles.
Assim, se para muitos desses
comentadores o poder político em Portugal só deveria estar nas mãos do PS e do
PSD, no futebol o poder deve continuar a ser feudo do FC Porto, do Benfica ou
do Sporting, de alianças pontuais entre eles ou dos três em conjunto. São os
que vendem, dizem os defensores da programação televisiva dedicada ao futebol.
E que vendem as televisões: tricas e brigas, rumores e especulações, debates
acalorados sem qualquer importância, que, com frequência, significam muitos
mais apelos à irracionalidade do que exemplos de desportivismo e respeito pelo
adversário.
Do que se sabe até agora, nada faz supor
alterações significativas na programação das televisões. E é pena, porque, como
escrevia hoje [sábado] o director de O Jogo, ela «funciona como telescola
para cadetes e adeptos». José Manuel Ribeiro referia-se, sobretudo, à batota,
reconhecendo que «estamos a ficar anestesiados (ou cúmplices) a todas as
vigarices, pulhices e sonsices, fora e dentro do relvado». É triste e pode ser
dramático.
O peso e a importância do futebol nas
sociedades modernas e avançadas merece outro tipo de abordagem, séria e
rigorosa. Sem ela, estarão as próprias televisões a fomentar cancros no
desporto mais popular à superfície da terra e, em última análise, a matar uma
galinha dos ovos de ouro.