Na linguagem tecnocrática muito em voga, incluindo na boca de
muitos jornalistas, eu sou um consumidor de noticiários televisivos. Ora, se
assim é, como encontro diariamente muitos defeitos nas notícias que me vendem,
acho deveria exigir o Livro de Reclamações, para, no mínimo, lavrar o meu
protesto. Desconheço, porém, a existência de tais brochuras em qualquer das
estações portuguesas, privadas ou pública, pelo que me valho desta criação de
um homem com nome adocicado Mark Zuckerberg (monte de açúcar), o Facebook,
para, de vez quando, dar conta das minhas amarguras.
Como consumidor, sou, assim, posto entre aqueles que enchem
as folhas de Excel que as chefias e as direcções dos referidos canais consultam
diariamente para avaliarem subidas ou descidas nos índices de audiência e no
«share». É assim que elas me vêem. A mim e a todos os telespectadores.
Infelizmente. Dentro desta lógica, o cidadão que gosta de estar informado sobre
o que vai acontecendo no país e no estrangeiro vale muito pouco. Diria até que,
para alguns, mesmo nada.
Estes alguns são os que pensam e defendem que, se a notícia
não vende, não presta. São os que consideram pré-histórica aquela velha máxima,
segundo a qual um órgão de informação deveria informar, formar e entreter. Em
meu entender, os órgãos públicos deveriam ser mesmo obrigados a respeitá-la.
Mas, infelizmente, quem os lidera guia-se também por políticas mercantilistas
e, pior, o patrão (Estado), cujo poder é exercido pelo Governo não é capaz de
os pôr na linha.
Não me resigno a esta ideia de que os tempos mudaram e nada
mais há fazer. Tenho consciência de é que é muito difícil contrariá-la, mas sei
que não é impossível. Mas, para isso, é preciso remar contra a maré e exigir da
tutela que respeite o cidadão e os direitos que lhe assistem consagrados na
Constituição da República. A batalha pode e deve ser travada por quem assim
pense também, desde logo para fazer ver a quem pode decidir sobre a matéria
que, no caso da televisão pública, o cidadão não pode ser visto e contabilizado
como mero consumidor. Eu, pelo menos, quero continuar a ser telespectador.
Atento e interventivo. Elogiando, quando se justificar; criticando, quando
tiver de ser.
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