E ei-lo que, de repente, aparece,
com assinatura e foto, a anunciar a «queda do jornalismo». Se não estou errado,
mais de trinta anos passaram desde que chegou ao meio, onde, afinal, nasceu e
sempre se alimentou.
O texto pretende ser uma análise
à realidade actual da Comunicação Social portuguesa, mas lê-se nele também
muita frustração, desalento e sobretudo culpabilizações, as quais, no entender do
autor do texto, justificam o insucesso. Desde logo, o polvo digital, cujos
tentáculos impedem os outros de crescer. No entanto, esqueceu-se ele e outros como ele que
andaram anos a fio a dar tudo de borla e parecem agora estar surpreendidos, quando verificam que, depois
de terem tentado fechar a torneira, poucos tenham mostrado interesse em abri-la.
Esses foram também os anos em que
atirando para fora da casa os que achava que tinham «privilégios e direitos
adquiridos» e que aos novos, que «tiram espaço aos mais velhos», foi oferecendo
contratos precários, aniquilando memória e experiência, ao mesmo tempo que,
voluntária ou involuntariamente, incrementava a insegurança e o medo, vírus
que afectam seriamente o jornalista e, claro, o órgão no qual trabalham. Enfim,
contribuiu decisivamente para a quebra de qualidade e da credibilidade.
Queixa-se de predadores e até
aponta nomes de alguns – Google, Facebook, Amazon. Pois é, sabe-se e já se
sabia, há muito, que os gigantes do digital absorvem e reproduzem sem pagarem direitos
pela informação que outros produzem. A queixa é justificada, mas que fez ele, ao
longo dos anos, contra isso?
Curiosamente, sempre entendeu que
os jornalistas da casa que administra não tinham os mesmos direitos que agora
reivindica face à avidez das multinacionais da comunicação. No entender deste
homem, o jornalista ideal é qualquer coisa do tipo Repórter
MacGyver: escreve para edição papel, reproduz na edição online, faz uma peça para a TV e outra
para a rádio (se também tivesse), tudo pelo preço de um salário, de
preferência… mínimo.
O mundo digital veio, sem dúvida,
alterar o panorama da Comunicação e da Informação mas não pode ser
culpabilizado por tudo. Há erros próprios, alguns deles bem graves, mas sobre
eles nem uma palavra. É preferível responsabilizar os outros: a Entidade
Reguladora da Comunicação e a Autoridade da Concorrência. Já agora, por que não
também a Autoridade para a Condições do Trabalho, da qual sempre fugiu como
diabo da cruz.
Quem tanto contribuiu para a
quebra da qualidade e da credibilidade de um órgão de informação como A BOLA não pode vir agora falar da «queda do jornalismo», mas sim da «queda de um jornal».
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