terça-feira, 19 de agosto de 2014

Maturidade

Estou a acabar de ler o livro Somos o Esquecimento que Seremos, do colombiano Héctor Abad Facioline, e um excerto que reproduz de outro livro (Cartas desde Asia, escrito pelo pai dele, médico e professor universitário assassinado pelos paramilitares em 1987), ficou a martelar-me na cabeça. O que ele escreveu, então, referindo-se ao ensino, tem, a meu ver, aplicação em quase tudo na vida.

«Que enorme quantidade de erros cometemos todos os que, como eu, pretendemos ensinar sem ter alcançado ainda a maturidade do espírito e a tranquilidade de juízo que as experiências e os maiores conhecimentos nos vão dando no fim da vida. O mero conhecimento não é sabedoria. A sabedoria sozinha também não basta. É necessário ter-se conhecimento, sabedoria e bondade para ensinar outros homens. O que temos de fazer, aqueles que alguma vez fomos mestres sem primeiro sermos sábios, é pedir humildemente perdão aos nossos discípulos pelo mal que lhe fizemos».

Lendo isto, de imediato pensei nas mulheres e homens que estão no governo, mas também penso na realidade da profissão de jornalista e do ambiente em muitas redacções. Até porque esta reflexão é associada pelo autor ao despedimento do pai, a dois anos da idade da reforma, só porque era incómodo, sobretudo perante a injustiça e a incompetência.

Diz o filho, o autor do livro:
«E agora, precisamente quando sentia que estava a atingir essa etapa da sua vida, quando já a vaidade não o influenciava nem as ambições tinham demasiado peso e se guiava menos pela paixão e pelos sentimentos e mais por uma racionalidade construída com muitas dificuldades, mandavam-no para a rua.»

Que paralelismo arrepiante com a realidade neoliberal dos nossos dias.


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