Estou a acabar de ler o livro Somos o Esquecimento que Seremos, do
colombiano Héctor Abad Facioline, e um excerto que reproduz de outro livro (Cartas desde Asia, escrito pelo pai
dele, médico e professor universitário assassinado pelos paramilitares em
1987), ficou a martelar-me na cabeça. O que ele escreveu, então, referindo-se
ao ensino, tem, a meu ver, aplicação em quase tudo na vida.
«Que
enorme quantidade de erros cometemos todos os que, como eu, pretendemos ensinar
sem ter alcançado ainda a maturidade do espírito e a tranquilidade de juízo que
as experiências e os maiores conhecimentos nos vão dando no fim da vida. O mero
conhecimento não é sabedoria. A sabedoria sozinha também não basta. É necessário
ter-se conhecimento, sabedoria e bondade para ensinar outros homens. O que
temos de fazer, aqueles que alguma vez fomos mestres sem primeiro sermos sábios,
é pedir humildemente perdão aos nossos discípulos pelo mal que lhe fizemos».
Lendo isto, de imediato pensei nas mulheres e
homens que estão no governo, mas também penso na realidade da profissão de
jornalista e do ambiente em muitas redacções. Até porque esta reflexão é
associada pelo autor ao despedimento do pai, a dois anos da idade da reforma, só
porque era incómodo, sobretudo perante a injustiça e a incompetência.
Diz o filho, o autor do livro:
«E
agora, precisamente quando sentia que estava a atingir essa etapa da sua vida,
quando já a vaidade não o influenciava nem as ambições tinham demasiado peso e
se guiava menos pela paixão e pelos sentimentos e mais por uma racionalidade
construída com muitas dificuldades, mandavam-no para a rua.»
Que paralelismo arrepiante com a realidade
neoliberal dos nossos dias.
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