Hoje, vai ser preciso água para tudo: para beber e para refrescar |
Houve um ano – não sei qual, mas
seguramente nos primeiros do novo século – em que a chefia de A BOLA entendeu
enriquecer a cobertura da Volta a Portugal com crónicas de quatro convidados.
Foram eles, a jornalista Diana Andringa, o poeta Joaquim Pessoa, o actor António
Reis e o maestro Vitorino de Almeida e foi-me atribuída a tarefa e a honra de
os acompanhar. Uma experiência inesquecível que não me importaria de repetir.
Pois bem, desde então, estou convencido
de que todos eles, se já gostavam de ciclismo, mais ficaram a gostar e recorda
dessa experiência a designação de «cavalheiros da estrada» criada pela Diana,
para enaltecer respeito e admiração pelos corredores. Joaquim Gomes, hoje
director da prova, ainda corria e foi um dos que lhe apresentei e com ela
conversou.
Vem isto a propósito de, pouco depois da
cerimónia protocolar de investidura de camisolas, em Setúbal, a Diana me ter
enviado a seguinte mensagem: «Martins Morim, faz sentido manter as etapas da
Volta com o golpe de calor e as poeiras em suspensão? Não percebo nada de
desporto, mas acharia de bom gosto suspendê-la».
«Fazer sentido, não faz», respondi-lhe,
acrescentando: «Melhor seria partir bem cedo de manhã, mas os compromissos comerciais
mandam». Mas, depois, lembrei-me de que houve um ano em que tremi de frio nos
Alpes sob temperaturas negativas e neve; que outra vez, a meio da Serra Nevada,
paramos o carro para comprar um fato de treino bem quentinho e mais um
agasalho, porque em Granada estavam mais de 20 e tal graus e eu estava de shorts e t-shirt e lá no alto o frio era de rachar.
«Pois, mas não faz sentido tanta
recomendação sobre o perigo dos próximos dias e, depois, não alterar um evento
desportivo, que, obviamente, está muito dependente das condições atmosféricas.
Calor, poeiras, ozono…», respondeu ela, acrescentando: «Os jornalistas desportivos
podiam fazer artigos sobre isso, ouvir pneumologistas…» Concordo e acrescento:
pneumologistas e/ou outros. Aqui fica a sugestão.
Mas esta troca de mensagens trouxe-me
também à memória uma chegada à Senhora da Graça – em 1991 ou 1992 -, cujo verde
da copa das árvores que protegiam os corredores na subida tinha sido comido
pelo fogo e transformado o monte Farinha em cenário lunar. Ainda hoje tenho nas
narinas o cheiro a queimado e recordo o drama do então director da Volta,
Serafim Ferreira, receando que o fogo impedisse o final da etapa lá no alto. Recordo
também – e creio igualmente que nos anos 90 do século passado (estou mesmo a
escrever de memória sem possibilidade de consultar arquivos – que, na sua
primeira experiência como director desportivo, então ao serviço da Tensai St.ª
Marta/Mundial Confiança, Marco Chagas ter dito que se equivocou nos litros de
água necessários para atravessar o Alentejo e que tiveram de encher garrafas
nas fontes que encontraram.
Mas, voltando ao ponto de partida: vão
ter vida difícil os corredores nas etapas de amanhã e depois – duas travessias
do Alentejo (Santigo do Cacém-Albufeira e Beja-Portalegre), com partida à hora
do sol a pique (12.35 e 12.30, respectivamente), mas não se pense que as
seguintes serão mais fáceis, para mais já com montanha pelo meio. O fresco só
quando chegarem a Viana do Castelo.
PS:
Já agora, camaradas, vejam lá o que os médicos têm para dizer. Já agora também,
não me batam se a memória me atraiçoou em algum facto.