A minha opinião assenta no mau uso dos artigos definido e
indefinido. O definido é usado com tal frequência, que chego a pensar que eles
conhecem pessoalmente todos os atletas e devem conviver com eles diariamente.
Ensinaram-me que o artigo definido é para a função, o cargo,
a profissão, etc… Neste caso, o jogador, o treinador, o dirigente… E, como a moda
se estendeu à política, é igualmente frequente ouvir apresentadores de notícias
e comentadores falarem do Marcelo e/ou do Pedro Nuno – o uso do
nome próximo até revela mais proximidade – do Montenegro e/ou do
Ventura, do Cavaco e /ou do Gueterres…
Outros bem conhecidos narradores de futebol insistem no
disparate com o artigo indefinido. Até me dá arrepios, quando os oiço dizer,
por exemplo: os jogadores de Benfica e Estrela. Benfica é uma freguesia
de Lisboa e pode até muito bem acontecer que nenhum dos jogadores da equipa da
Luz seja desta freguesia. Sei que há um clube que se chama Estrela da Amadora,
mas não sei onde fica Estrela.
E uma vez que está a chegar ao fim a época velocipédica, confesso
que me dá urticária ouvir dizer que fulano tem uma vantagem ou um avanço para
sicrano de tantos minutos ou segundos.
Já no futebol sãos os golos marcados por intermédio de
alguém, ou até mesmo através! E que dizer do uso da muleta por parte.
No mínimo, que serve para tudo, mas nunca para esconder o desconhecimento dos
artigos e das preposições e, claro, também da respectiva aplicação e bom uso.
Do noticiário político e não só
Disse a apresentadora: «Kamala Harris foi confirmada como
candidata à presidência dos Estados Unidos. A confirmação aconteceu on-line».
Imagine-se, nem foi preciso intervenção humana!
O recurso ao verbo acontecer serve, aliás, para tudo e
mais alguma coisa, um bom exemplo da pobreza semântica de muitos jornalistas:
tudo acontece – congressos, todo o tipo de espectáculos, jogos de futebol,
corridas, etc. Nada se prepara nem se organiza. Acontece, simplesmente.
E há verbos que desapareceram do vocabulário desta gente. Pôr é um
deles. Foi substituído por colocar. Mas não consigo imaginar um chefe,
irado, a dizer ao estagiário: coloco-te no olho da rua, se voltas a
escrever esse disparate! Nem sem continua a escrever que existem lesionados
no clube X ou Y. Parece-me que verbo haver também foi banido. Outros não
sabem também quando escrever o falar evitar e/ou impedir, fazer
ou efectuar… A lista podia continuar, mas limito-me a lembrar mais uma
dificuldade: adesão e aderência.
Pelos vistos, ninguém corrige, e outros limitam-se a
papaguear. Pensar e aprender dá trabalho. Assistimos cada vez mais àquilo a que
o meu camarada e amigo Alfredo Maia apelida de jornalismo de matilha,
pelo que não deve causar espanto o mimetismo também no erro e no
disparate. E isto porque, na matilha, há cada vez mais repórteres MacGyver —
quase sempre jovens. Vão a todas, mesmo que impreparados e por isso
mesmo inseguros, como se percebe com frequência na voz e no vocabulário. Elas e
eles, por receio de perderem o emprego ou, o que é mais frequente, com medo de o
não conseguir, aceitam todas as ordens: para um apontamento de rua ou um
congresso, um jogo de futebol ou uma corrida de bicicletas, um desfile ou uma
cerimónia religiosa, um incêndio ou um naufrágio…
Pensar e aprender dá trabalho. Papaguear é mais fácil. Creio
que isso explica tanto a repetição preocupante dos erros e disparates, que
vamos ouvindo e lendo, como a ausência de revisores ou de alguém que corrija ou
saiba corrigir. Exemplos deste quadro trágico podem ser vistos todos os dias
nos rodapés dos noticiários televisivos e não só. Mas também podemos
encontra-los nos jornais. Não lê jornais? Pode consultar o Observatório da
Asneira, no Facebook e fica ao corrente.
E eu bem gostaria de recordar o velho slogan que nos
dizia que ler jornais é saber mais. Já não me atrevo.