quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Comentários ou conversas de café

 

  Ouvindo alguns narradores de acontecimentos desportivos e comentadores do desporto, designadamente de futebol, cada vez mais me convenço de que estou a escutar conversas de café.

A minha opinião assenta no mau uso dos artigos definido e indefinido. O definido é usado com tal frequência, que chego a pensar que eles conhecem pessoalmente todos os atletas e devem conviver com eles diariamente.

Ensinaram-me que o artigo definido é para a função, o cargo, a profissão, etc… Neste caso, o jogador, o treinador, o dirigente… E, como a moda se estendeu à política, é igualmente frequente ouvir apresentadores de notícias e comentadores falarem do Marcelo e/ou do Pedro Nuno – o uso do nome próximo até revela mais proximidade – do Montenegro e/ou do Ventura, do Cavaco e /ou do Gueterres…

Outros bem conhecidos narradores de futebol insistem no disparate com o artigo indefinido. Até me dá arrepios, quando os oiço dizer, por exemplo: os jogadores de Benfica e Estrela. Benfica é uma freguesia de Lisboa e pode até muito bem acontecer que nenhum dos jogadores da equipa da Luz seja desta freguesia. Sei que há um clube que se chama Estrela da Amadora, mas não sei onde fica Estrela.

E uma vez que está a chegar ao fim a época velocipédica, confesso que me dá urticária ouvir dizer que fulano tem uma vantagem ou um avanço para sicrano de tantos minutos ou segundos.

Já no futebol sãos os golos marcados por intermédio de alguém, ou até mesmo através! E que dizer do uso da muleta por parte. No mínimo, que serve para tudo, mas nunca para esconder o desconhecimento dos artigos e das preposições e, claro, também da respectiva aplicação e bom uso.

 

 

 

 

 

Do noticiário político e não só

Disse a apresentadora: «Kamala Harris foi confirmada como candidata à presidência dos Estados Unidos. A confirmação aconteceu on-line». Imagine-se, nem foi preciso intervenção humana!

O recurso ao verbo acontecer serve, aliás, para tudo e mais alguma coisa, um bom exemplo da pobreza semântica de muitos jornalistas: tudo acontece – congressos, todo o tipo de espectáculos, jogos de futebol, corridas, etc. Nada se prepara nem se organiza. Acontece, simplesmente. E há verbos que desapareceram do vocabulário desta gente. Pôr é um deles. Foi substituído por colocar. Mas não consigo imaginar um chefe, irado, a dizer ao estagiário: coloco-te no olho da rua, se voltas a escrever esse disparate! Nem sem continua a escrever que existem lesionados no clube X ou Y. Parece-me que verbo haver também foi banido. Outros não sabem também quando escrever o falar evitar e/ou impedir, fazer ou efectuar… A lista podia continuar, mas limito-me a lembrar mais uma dificuldade: adesão e aderência.

Pelos vistos, ninguém corrige, e outros limitam-se a papaguear. Pensar e aprender dá trabalho. Assistimos cada vez mais àquilo a que o meu camarada e amigo Alfredo Maia apelida de jornalismo de matilha, pelo que não deve causar espanto o mimetismo também no erro e no disparate. E isto porque, na matilha, há cada vez mais repórteres MacGyver quase sempre jovens. Vão a todas, mesmo que impreparados e por isso mesmo inseguros, como se percebe com frequência na voz e no vocabulário. Elas e eles, por receio de perderem o emprego ou, o que é mais frequente, com medo de o não conseguir, aceitam todas as ordens: para um apontamento de rua ou um congresso, um jogo de futebol ou uma corrida de bicicletas, um desfile ou uma cerimónia religiosa, um incêndio ou um naufrágio…

Pensar e aprender dá trabalho. Papaguear é mais fácil. Creio que isso explica tanto a repetição preocupante dos erros e disparates, que vamos ouvindo e lendo, como a ausência de revisores ou de alguém que corrija ou saiba corrigir. Exemplos deste quadro trágico podem ser vistos todos os dias nos rodapés dos noticiários televisivos e não só. Mas também podemos encontra-los nos jornais. Não lê jornais? Pode consultar o Observatório da Asneira, no Facebook e fica ao corrente.

E eu bem gostaria de recordar o velho slogan que nos dizia que ler jornais é saber mais. Já não me atrevo.


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Vem aí o futuro!

  O SNS vai melhorar, os médicos vão trabalhar menos e ganhar mais, os professores vão receber o atrasado, a TAP só vai dar lucro...

O País vai ficar rico e os jovens ficam todos cá; as reformas vão aumentar e os impostos vão baixar.

Desculpem, era eu a sonhar!

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Deixa-me perceber como conduzes e dir-te-ei quem és

 

Entre a ponte sobre o caminho de ferro (Santa Apolónia) e a rotunda de acesso à Avenida Coronel Eduardo Galhardo, a Avenida Mouzinho de Albuquerque tem um equipamento de limitação da velocidade que beneficia o infractor. Tanto a subir como a descer, exceder os 50 km/hora provoca passagem do amarelo intermitente a vermelho e, hoje, quem ali passa diariamente, sabendo assim é, não falta quem aproveite a deficiência e... acelere, porque sabe que... passa. E quem vem atrás, respeitando a lei, vê a marcha interrompida pelo sinal vermelho, que cai logo que alguém supera o limite da velocidade estipulado para esta artéria.

 É um dos expedientes dos chicos-espertos, que os há, e muitos, nesta cidade e neste país. Mas não é o único. Estacionar em segunda fila também poderia ser visto como tal, sobretudo quando o condutor sai do carro, deixa os piscas de advertência ligados — como se isso fosse um pedido de desculpa — e vai às compras ou simplesmente tomar café. Por vezes, tendo, até, bem perto, espaço para estacionamento. E se por acaso foi interdito à viatura que conduz, mal por mal, pelo menos não estancaria momentaneamente o trânsito. Nestes casos, porém, apelidar tais condutores de chicos-espertos será sempre muito simpático. Malcriados é o que eles são.

Gente sem civismo é, porém, o que mais se vê no trânsito citadino e nas estradas nacionais. Diria mesmo: deixa-me perceber como conduzes, dir-te-ei quem és. A própria viatura parece dar estatuto a quem o conduz. Se ando num carro com mais de trinta anos – e tenho um, que utilizo para as minhas pequenas voltas – ouço com frequência: Ó velhote não podes andar mais depressa! Contudo, com a outra viatura mais modernas e, digamos, de gama média/alta, já ouvi arrumadores de carros tratarem-me por engenheiro, doutor e arquitecto. Sou apenas um jornalista reformado.

E se há aquele que não abdica de conduzir na esquerda como lesma numa parede, não falta também o apressado ziguezagueando nas vias rápidas citadinas ou nas auto-estradas, pondo em risco a vida dele e de outros. Uns e outros irritam-me tanto ou mais do que aquele ou aquela que chegam a uma bicha e se nos dirigem, perguntando: não se importa que passe à frente, estou com pressa. Mas se esquecem de nos perguntar primeiro, se não estamos também com pressa. Contudo, mais me irrita ainda ver agentes da PSP assobiarem para o ar perante as infracções. Vivo em frente a um supermercado, diante da entrada do qual há uma grade de linhas amarelas, a qual, segundo o Código da Estrada, delimita uma área onde não se pode passar, parar e ou estacionar, sob risco de bloqueio. No papel, claro! Na prática, não vejo nada disso. Pelo contrário, assisto ao, por vezes bem incomodativo espectáculo de buzinadelas do camião que vem abastecer o supermercado ou da incomodativa vibração no prédio provocada pelo trabalhar do motor. E quem fazem os agentes da PSP? Recolhem-se no interior da esquadra ou fingem não ver nem ouvir.

Chego a acreditar que há portugueses que, se pudessem, entrariam de carro no supermercado, para fazer as compras, ou no café, para beber uma cerveja!

sábado, 19 de novembro de 2022

Possam os «media» aproveitar os palcos abertos ao mundo para denunciar o que está mal e promover as boas causas

 


O Campeonato do Mundo de futebol começa, amanhã, em Doha, capital do Catar. Neste torneio, o mais mediático de todas as grandes competições desportivas deste ano, participam as selecções nacionais de 32 Estados. Porém, nenhum tão pequeno como o minúsculo emirado do Golfo, que quer ser gigante a qualquer preço e até à custa da violação de direitos humanos. O Catar tem estado, por isso mesmo, a ser alvo de críticas. Justificadas, diga-se, por mais que o presidente da FIFA venha agora tentar rebatê-las com argumentos que não eliminam as evidências.

Seja como for, quando a bola começar a rolar, no Estádio Lusail, em Doha, no jogo inaugural (Catar-Equador), o ritmo e o tom das críticas vai baixar seguramente, como tem acontecido ao longo da história. Mas isto não significa que o Mundial não possa nem deva ser aproveitado em prol de boas causas como o combate ao racismo e à xenofobia, a defesa dos direitos laborais, entre outras, em prol da tolerância, do entendimento entre os povos e da paz. Em resumo, em defesa dos direitos humanos.

Os palcos estão abertos ao mundo, a milhões e milhões de pessoas em todo o planeta. Queiram e possam público e jornalistas aproveitá-los. Não faltam exemplos demonstrando que os estádios foram, têm sido e podem continuar a ser palcos de manifestações de contestação a poderes estabelecidos ou de reivindicações de todo o tipo.

Recorde-se, a final da Taça de Portugal de 1969, no Estádio Nacional, entre Benfica e Académica, em que a equipa de Coimbra jogou de faixa branca no braço como sinal de luto e protesto contra a repressão policial que se abatera sobre a academia. Neste caso, a política impôs mesmo o seu poder, ao impedir que uma das estrelas da equipa academista, Artur Jorge, que estava a fazer a tropa em Mafra, fosse dispensado para poder participar nesse jogo. Motivo: o regime considerava-o o cabecilha do protesto.

Em Espanha, durante o regime franquista, o Barcelona, para os catalães, ou o Atlhetic Club Bilbao, para os bascos, representavam o mesmo tipo de afirmação ante o Real Madrid, o clube de Franco e de Espanha. Podia-se falar basco ou catalão nos estádios, o que não era possível noutros lugares públicos. Os dois clubes eram símbolos da resistência, simultaneamente étnica e política, à tirania.

Veja-se o caso da Argentina, cuja ditadura militar organizou o Campeonato do Mundo de 1878, seguramente com o objectivo de que o mundo a reconhecesse. A história já tinha mostrado que a participação com êxito ou a organização de grandes eventos desportivos como Jogos Olímpicos ou campeonatos do Mundo permitiram por essa via a legitimação de regimes ditatoriais e autoritários. Entre os piores exemplos estão o Mundial de 1934, na Itália do ditador fascista, Betino Mussolini, e os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, quando à frente da Alemanha já estava o líder nazi, Adolf Hitler.

Na Argentina, porém, aconteceu precisamente o contrário. Nunca de modo tão intenso foi a ditadura militar tão duramente criticada. Os estádios transformaram-se durante a competição nas maiores concentrações populares, uniu o povo argentino em torno da sua selecção, de tal modo que o seleccionador nacional, Luís César Menotti, e vários futebolistas dedicaram a vitória ao povo e não ao país ou ao regime e, além disso, a imprensa internacional acabou ser veículo de denúncia das atrocidades cometidas pelos militares. Nas bancadas dos estádios, ouviu-se com frequência a multidão a gritar: se va acabar, se va acabar, la dictadura militar!

«O desporto é uma linguagem universal e, no melhor das suas capacidades, há nele um poder agregador, unindo as pessoas, quaisquer que sejam a sua origem, meio social, convicções políticas, crenças religiosas ou a sua situação económica». A frase é do antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e foi proferida na cerimónia de lançamento do Ano Internacional do Desporto e da Educação Física, em 2005.

 


quinta-feira, 9 de junho de 2022

LEMBRANÇA

 

LEMBRANÇA – Fiz quase 3.000 quilómetros de comboio para estar na primeira Festa do Avante, vindo de Berlim (ex-RDA). Sem EP – desconhecia que era preciso comprar com antecedência – já pensava que ficaria à porta da antiga FIL, quando, de repente, vejo diante de mim aquele homem grande de barba, o Adriano, que conhecia de Lisboa e que voltei a reencontrar numa das idas dele ao Festival da Canção Política, em Berlim. E foi com ele que consegui andar no meio daquele mar de gente, bebericando em tudo que era stand com petiscos regionais e um copo. Em boa hora. Por tudo. Acima de tudo, por uma bela amizade, ainda que curta. Mas inesquecível. Oiço emocionado a tua voz cristalina com enorme saudade. Um forte abraço, Adriano, onde quer que estejas.

https://www.youtube.com/watch?v=yPT_Ka0ajOI



segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Direitos ameaçados

 


Diogo Cardoso Oliveira assina hoje (22/11/2021), no Público, um bem elaborado trabalho sobre o que ele considera a «”mordaça” oculta que cala os futebolistas».

Na base deste trabalho estão regulamentos existentes nos clubes profissionais de futebol e práticas que calam futebolistas e árbitros. Até parece que nuns e noutros o cérebro não existe para pensar nem a boca para falar.

O protesto, já se sabe, é logo punido com um cartão amarelo, mas se o insulto visar a mãe do árbitro o vermelho será de imediato levantado diante do nariz do prevaricador.

Porém, se o protesto ou opinião emitida visar o treinador, as escolhas feitas ou as tácticas e estratégias adoptadas, ou visar também decisões tomadas pela Direcção do clube, o castigo é mais do que certo. E de castigo não se livra igualmente o árbitro que decida criticas ou discordar de decisões e condutas da Direcção da associação ou organismo em que estiver filiado.

Como diz o jornalista do Público, «no futebol, falar não é para todos. No “reino do medo”, com mais mordaças e menos liberdades, jogadores, treinadores e árbitros são castigados quando falam de mais. A liberdade de expressão é um direito ameaçado».

 

O antigo internacional português, Marco Caneira, com carreira feita em Portugal e no estrangeiro, diz ao Público que lá fora é igual. E acrescenta que só conheceu um caso de um clube onde os capitães debateram o regulamento com o director responsável. «São praticamente iguais, vêm com indicações da UEFA e não fogem muito uns dos outros». 

 


 

 



Mas a UEFA é uma entidade de direito privado, pelo que somos levados a pensar que não pode sobrepor-se ao direito da República Portuguesa e de outros Estados. Contudo, pelos vistos, não são só os futebolistas, os treinadores e os árbitros que se calam.

E nem sempre é só a liberdade de expressão que é cortada aos jogadores. Vezes sem conta, os clubes decidem ir também ao bolso dos futebolistas, fazendo cortes nos respectivos salários, como parece ser o caso do Bayern de Munique, para castigar os jogadores que têm recusado a vacina contra a Covid-19. São eles Joshua Kimmich, Serge Gnabry, Jamal Musiala, Eric Maxim Choupo-Moting e Michael Cuisance.

Ninguém duvida que a ausências desses futebolistas dos treinados e, consequentemente, dos jogos, por terem de fazer quarentena e de assegurar a cura, causa ou pode causar sérios prejuízos desportivos e financeiros ao clube, mas será que, num Estado de direito, como é a Alemanha, pode uma entidade empregadora agir desse modo sem autorização do tribunal? Não estamos aqui também perante um direito ameaçado? O direito à expectativa do pagamento da remuneração acordada entre as partes. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Geraint Thomas recuperou a bicicleta

 

Estou de volta ao meu blog e espero ter mais estórias para contar.

O campeão olímpico de 2016 (contra-relógio) e vencedor da Volta à França em 2018 apanhou um susto que não vai esquecer depressa. Um destes dias, parou para tomar um café, fazendo uma pausa no treino, em Menton (sul de França), e, quando voltou à rua, a bicicleta tinha «voado» sem deixar rasto.

Mesmo assim, a sua máquina de trabalho foi recuperada rapidamente. «Vejam lá o que apareceu por aqui», escreveu o corredor britânico da Ineos Granadier no Twitter, legendando uma fotografia, onde aparece numa esquadra da Gendarmerie, junto de três agentes e a sua bicicleta Pinarello.

«Quero agradecer todo o apoio e empenhamento da polícia de Menton, graças à qual este episódio terminou da melhor maneira», acrescentou Geraint Thomas, sem explicar em que estado estava a bicicleta.

Comentários ou conversas de café

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