O grupo Estado Islâmico (EI)
recorreu às redes sociais para divulgar a decapitação do jornalista dos Estados
Unidos, James Foley. Um acto criminoso, horrendo, primário e seu lá que mais.
Inqualificável... Que outros adjectivos podem sem aplicados? Tantos!
Houve órgãos de informação
em todo o mundo que publicaram fotos e/ou frames do vídeo. Outros ficaram-se
pela fotos, muitos deles aquela onde ele aparece de veste cor de laranja e
cabelo rapado, tendo por trás um militante do EI, que o agarra com a mão
direita e ostenta a faca na esquerda, dirigindo-se ao presidente dos EUA,
Barack Obama, antes de executar uma vítima inocente, a quem a veste cor de laranja e o cabelo
rapado lhe retiram até o direito à auto-estima e à dignidade.
Vi a foto, mas recuso-me a
ver o vídeo, este e outros que têm sido divulgados nas redes sociais, em
operações de macabra propaganda de grupos terroristas e de gente sem pingo de
escrúpulo, para quem a vida humana nada vale.
... E questiono-me se devem os
órgãos de informação divulgar tais imagens (fotografias e/ou vídeos?). Entendo
que não, mas estou seguro de que não falta quem pense o contrário. E defenda,
até, que não divulgá-las cai no campo da censura.
O Twitter fez saber que tem
eliminado essas fotos/vídeos, bem como todos aqueles que recorrem a esta rede social para divulgá-las, mas, mesmo assim, o que este caso revela, tal como outros
anteriores, e os que virão é prova que a ausência de filtros tudo permite
nelas. Incluindo, claro, o que há de mais brutal, inqualificável e condenável.
Tenho, para mim, que os media que divulgam tais imagens,
divorciando-se do respeito pela ética social, tal como o jornalistas do
respeito pela deontologia da profissão, passam a ser co-responsáveis pela
banalização da violência, do crime e do terrorismo. E, contudo, é também
legítimo admitir que, se cidadãos e órgãos de informação impusessem a eles
próprios limitações à liberdade de informação, isso significaria também uma
vitória para os terroristas.
Mesmo assim, e reconhecendo
embora que a guerra tem outras imagens violentas – porque a guerra é violência
– continuo a pensar que, em casos como este, sejam as vítimas cidadãos dos
Estados Unidos ou da Síria, de Israel ou da Palestina, portugueses ou chineses,
jornalistas ou religiosos, voluntários de causas humanitárias ou homens de
negócios, é urgente e imperioso que os jornalistas e os media não se deixem levar pela vertigem da comunicação e pensem sempre na informação
jornalística, que não são necessariamente a mesma coisa. Desde logo, porque
o que importa é fazer com que fique na memória de todos o trabalho de James
Foley, neste caso, como de outros antes dele e dos que, infelizmente, lhe
sucederão, e não os criminosos actos de terroristas.
Uma sociedade mal-formada
será sempre pouco exigente com a informação
jornalística, se é que não a despreza mesmo. E divulgar fotos e vídeos
como estes não vai melhorar a consciência do cidadão nem a sociedade. Desde
logo, porque também não é com recurso às armas que poderá ser posto fim a este terrorismo informativo.